Na Arquidiocese de Florianópolis, não há comunidade sem alguém para conduzir o canto nas celebrações litúrgicas e reuniões religiosas. Algumas possuem diversas vozes, instrumentistas e contam com uma estrutura completa de som; outras, em sua simplicidade, tocam os corações dos fiéis e animam o espaço religioso apenas com suas vozes. Não importa o tamanho ou a estrutura, é inegável que o serviço de música nas paróquias tornou-se indispensável para criar pontes, que aproximam as pessoas, até as mais distantes, ao Mistério de Cristo.
Desde o início, a música sempre foi um elemento muito presente na Igreja. Não é por acaso que a devoção à Santa Cecília, nobre jovem romana martirizada por volta do ano 230, é bastante popular. Considerada padroeira dos músicos, sua devoção atravessa gerações.
A importância da música sacra para a Igreja é destacada no documento Constituição sobre a Liturgia Sacrosanctum concilium, que afirma “a tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte… Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura, quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente vincaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino.”
Segundo o Papa Francisco, em discurso aos participantes do III Encontro Internacional de Corais do Vaticano, a música é um verdadeiro instrumento de evangelização na medida em que torna os músicos testemunhas da profundidade da Palavra de Deus que comove o coração das pessoas, e que permite a celebração dos sacramentos, em particular da Sagrada Eucaristia, que fazem sentir a beleza do paraíso.
“Nos momentos de alegria e na tristeza, a Igreja é chamada a estar sempre próxima das pessoas, para lhes oferecer a companhia da fé. Quantas vezes a música e o canto permitem que estes momentos sejam únicos na vida das pessoas, porque elas os conservam como uma recordação preciosa que marcou a sua existência”, destacou o pontífice na ocasião.
São João Paulo II já reforçava a importância da arte para que o homem moderno pudesse contemplar a beleza da criação: “A arte é um dom de Deus para os homens. Por meio dela, o homem e a mulher são capazes de incutir esperança nos corações e perpetuar a cultura de um povo”.
Conselhos dos papas aos músicos
Entretanto, se os papas da Igreja exaltam os frutos da música sacra e religiosa na Igreja ao longo das últimas décadas, também não faltam conselhos sobre o que se espera dos músicos católicos e os caminhos para uma música que verdadeiramente sirva à liturgia e conduza até Deus.
São Paulo VI desejava que a música sacra que se integrasse com a liturgia e que dela obtivesse as suas características fundamentais. Não uma música qualquer, mas uma música com três características bem específicas, as quais o Papa Francisco resumiu em um discurso em 28 de setembro de 2019: “santa, porque são santos os ritos; dotada da nobreza da arte, porque a Deus deve ser dado o melhor; e universal, para que todos pudessem compreender e celebrar. Acima de tudo, bem distinta e diferente das utilizadas para outros fins.” E recomendou aos músicos que se cultivasse o sensus ecclesiae, o discernimento da música na liturgia. Ele disse: “Nem tudo é válido, nem tudo é lícito, nem tudo é bom. Aqui o sagrado deve unir-se ao belo numa síntese harmoniosa e devota”, em discurso às religiosas encarregadas do canto litúrgico, em abril de 1971.
Pianista e grande amante da música clássica, Bento XVI também teve muitos encontros com os músicos e os exortava a serem “guardiães da Beleza”. “Vós tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e coletiva, de suscitar sonhos e esperanças”, motivou em discurso aos artistas, em novembro de 2009.
Artigo publicado na edição de novembro de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 6 e 7.